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PARABÉNS MÃE

(por Angelica Rente, abril 2014)

Mãe,

Hoje a senhora faria 72 anos, se não tivesse ido embora tão cedo. Confesso que não consigo imaginá-la com essa idade, talvez porque a sua imagem ainda esteja muito viva dentro de mim, uma linda mulher pouco mais velha do que sou hoje. Ou talvez porque ela se torna ainda mais viva a cada reflexo meu no espelho, em algo da sua voz na minha, nas coisas que faço e que foram ensinadas a mim pela senhora...

Quero contar que estamos todos bem. Foi difícil para todos nós não tê-la a nosso lado mais, mas com o tempo aprendemos a conviver com isso, apesar da saudade que não diminui nunca. Sinto pela sua partida ter sido antes que pudesse conhecer todos os seus netos. São seis agora, três meninos e três meninas, pra quem a senhora adoraria ter costurado roupinhas e outras coisas lindas e cor-de-rosa.

Na verdade, hoje os meus dois meninos, que a senhora conheceu bebês, são homens, e sei que se orgulharia muito deles, como se orgulharia muito de todos os seus netos. E tenho certeza de que se orgulharia demais dos meus irmãos, dos homens e pais que eles se tornaram. Quanto a mim... Eu sei que muitas vezes a decepcionei, por não ser exatamente aquela filha que a senhora sonhava que eu fosse.

 

Seu desejo sempre foi que eu fosse mais delicada, mais vaidosa, mais sociável, menos contestadora, que fosse (ou parecesse) menos inteligente... Hoje sei que esse era o seu jeito de me dizer que assim, de acordo com o seu modo de ver o mundo, eu seria mais feliz. Mas também tenho consciência de que a senhora também teria orgulho de quem sou hoje, apesar de eu ter virado alguém tão diferente dos seus padrões ideais. Apesar de eu ter tomado algumas decisões que talvez não fossem as que a senhora acharia as mais corretas.

 

Acredito que se orgulharia em ver a mulher que me tornei, que consegue, ou ao menos tenta, encontrar sua força em um feminino nada frágil. Cuja delicadeza e cuidado com a aparência externa se ancoram na consciência profunda dessa força interior, e não em valores impostos de fora. Que sabe ser doce e forte, vulnerável e, ao mesmo tempo, tem coragem de viver de acordo com sua verdade. Que se reinventou várias vezes. Que aprende e conhece coisas novas a cada instante e que, mesmo agora, nesse momento de vida em que poderia estar se acomodando e se preparando para também virar avó depois de ter criado seus filhos, é capaz de se arriscar para viver aquilo que lhe é mais caro e importante. Que vai realizar um sonho antigo em breve, apenas porque se deu o direito de acreditar que merece.

 

Gostaria de tê-la ao meu lado ainda, certamente já teríamos dançado juntas em muitas rodas por ai, feito muitas outras coisas juntas, conversado e brigado bastante também. Sinto-me tocada pelo mistério por ter tido o privilégio de acompanhá-la de muito perto nos seus últimos meses aqui, eu grávida e depois mãe recente, vendo o círculo da vida se fechar à minha volta, vida nova e morte se reconciliando. Fico honrada por ter ouvido suas últimas confidências, seus medos, suas esperanças.

 

Vinte anos se passaram, e a sua presença continua viva ao meu lado, dentro de mim. O véu que nos separa é muito tênue, e há momentos em que ele se abre e me deixa ver. E então eu sonho com a senhora, jovem, bonita e feliz, sempre cercada de gente, sempre em festa. Que hoje seja também um dia de comemorações. Do lado de cá, celebro sua vida e o imenso presente de ser sua filha.

 

Feliz aniversário, mãe!

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