top of page

AÇÕES COMUNITÁRIAS

"Nossas ações impactam as vidas das pessoas ao nosso redor, assim como as nossas vidas são impactadas pelas ações delas - de formas muito profundas, constituintes mesmo. A neurociência tem olhado para pra isso faz um bom tempo e comprovado que nossos corpos se formam e se modificam nas relações e nos encontros. É responsabilidade nossa escolher nossas ações tendo isso em vista, se quisermos conviver de forma justa e cuidadosa. (...)

Numa daquelas voltas que a história costuma fazer, a psicologia mais contemporânea se afasta da noção de indivíduo (e de humanismo, diga--se de passagem) pra adotar uma perspectiva que contempla a interdependência e a coexistência com as várias formas de existências no mundo, humanas e não-humanas, vivas e não vivas.

Como fazem, há milênios, os povos tradicionais. Não mais indivíduos, mas pessoas coletivas. Não mais corpos individuais, mas corpos estendidos (sem órgãos, dizem os esquizoanalistas, numa das propostas mais legais de existência que eu já conheci)." Angelica Rente

"A vulnerabilidade assusta porque ela muda o estado das coisas. Ao admitirmos nossa fragilidade, nosso não-saber, ao comunicarmos com franqueza nossos pensamentos e emoções, convocamos a(s) outra(s) pessoa(s) de uma relação a olhar para nós de uma forma diferente e potencialmente "perigosa", que incomoda e convida a uma transformação nessa relação.

Estamos acostumadas a acreditar que os processos da vida podem - e devem - ser controlados, tanto os que ocorrem fora, quanto os que acontecem dentro de nós, na forma de sentimentos, desejos, ideias, expectativas ou os tão famosos julgamentos.

Achamos que, através do uso da técnica ou do instrumento correto, do trabalho interno ou de alguma disciplina misteriosa, iremos, finalmente, conseguir adquirir o controle sobre essas coisas e uma serena neutralidade frente ao mundo e a nós mesmas e, quando não o conseguimos, passamos a acreditar que é por alguma falha pessoal, por não termos tentado com persistência o suficiente ou por ainda não termos encontrado o método correto. E seguimos buscando, treinando, tentando descobrir o que ainda falta aprender, desenvolvendo metodologias, ferramentas. Buscando controle.

Acontece que os processos da vida são fenômenos incontroláveis, eles acontecem, queiramos nós ou não. O que cabe a nós é observá-los atenta e curiosamente, contemplando-os e interrogando-os: o que querem, o que pedem? Quais as necessidades que se escondem por baixo dessas manifestações? A transformação das dinâmicas e processos começa por ai.

Não existe isenção frente à vida e ao mundo, estamos, desde que nascemos, mergulhados neles, entretecidos em sua trama, a trama da mutualidade de que falam Luther King, Merleau-Ponty e várias sabedorias e tradições ancestrais.

Admitir nossa vulnerabilidade e nossa total incapacidade de controlar o que quer que seja é redescobrir - e, à partir dessa redescoberta, compartilhar - nossa bela e desafiadora humanidade." Angélica Rente

bottom of page